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Opinião

A nova liderança hospitalar: entre a sola do sapato e os dashboards

Redação Jornal de Brasília

05/06/2025 8h57

comando

Imagem ilustrativa criada a partir de IA

Por Fábio Frank*

Vivemos uma transformação profunda na gestão hospitalar. A entrada de startups de tecnologia, com soluções inovadoras para controle de consumo, localização de ativos, previsão de demanda e painéis de gestão em tempo real (command Center) promete revolucionar a forma como tomamos decisões. Mas, no centro dessa revolução, é preciso lembrar: nenhuma tecnologia substitui a presença do gestor. A gestão hands-on — aquela feita com a sola do sapato gasta — segue sendo insubstituível para quem quer realmente entender, melhorar e transformar a saúde.

Há quem acredite que dashboards e dados atualizados eliminam a necessidade de presença. Penso exatamente o contrário. A tecnologia é essencial, mas ela é ferramenta, não substituto. São os olhos atentos na operação, os rounds pelos setores, as conversas com equipe de enfermagem e atendimento, técnicos, médicos e pacientes que revelam as nuances que um gráfico não capta. É ali, onde o cuidado acontece, que os fluxos são testados, os processos são tensionados e as melhorias reais podem surgir, bem como as possíveis crises podem ser mitigadas. Essa proximidade diária — e não visitas episódicas ou comitivas mensais — é o que permite ao gestor entender os gargalos invisíveis e tomar decisões com base em dados verdadeiros, gerados na ponta.

A cultura do dado precisa estar a serviço da realidade — e não o contrário. Vejo com preocupação a substituição da presença pela falsa sensação de controle absoluto fornecida por uma avalanche de números e painéis. Quando o gestor se afasta da operação, perde a sensibilidade para interpretar os dados com contexto. É o que se chama de “qualidade do número gerador”: não basta ter o ao número; é preciso entender como e por que ele foi gerado.

Em instituições de saúde que adotam um modelo de liderança mais presente, observa-se um impacto positivo em diversas frentes. O engajamento das equipes cresce, a comunicação se torna mais fluida e os ajustes operacionais são mais ágeis. Mesmo com o e de painéis inteligentes e sistemas sofisticados, é a escuta ativa do gestor que frequentemente identifica variáveis que não estavam mapeadas. Essa leitura mais precisa e humana da realidade ajuda a direcionar melhor os recursos e a aprimorar continuamente os processos de cuidado.

Esse modelo de gestão é, antes de tudo, um compromisso com a excelência. A presença do gestor gera confiança, engajamento e pertencimento. E quando a equipe se sente ouvida, ela se compromete mais com os resultados. Hospitais com lideranças ativas tendem a apresentar maior satisfação dos pacientes e menos eventos adversos. Ou seja: liderar de perto impacta diretamente a experiência do paciente e a segurança assistencial.

O que aprendemos nesses últimos anos é que o melhor caminho não está nos extremos. Não se trata de escolher entre a gestão analógica e a

digital, entre a visita ao leito ou o no computador. O verdadeiro diferencial está no equilíbrio: usar a tecnologia para ganhar agilidade e clareza, mas sem abrir mão da escuta ativa e da presença cotidiana no chão da operação. É essa combinação que gera resultados sustentáveis e transforma instituições.

A saúde brasileira, pública e privada, precisa de gestores que sejam estrategistas — mas que também estejam dispostos a gastar sola de sapato. Que saibam ler dashboards, mas que também saibam ler os sinais de uma enfermaria. Que reconheçam o poder da tecnologia, mas não renunciem à humanidade. Porque, no fim das contas, é essa liderança — próxima, engajada e consciente — que garante que os avanços digitais estejam a serviço das pessoas, e não o contrário.

fábio

Fábio Frank Executivo C-Level com sólida formação em istração Hospitalar e mais de duas décadas de atuação estratégica no setor da saúde, com agem por hospitais de alta complexidade e operadoras líderes no país. Possui visão integrada da saúde suplementar e hospitalar, com expertise na liderança de grandes HUBs, reestruturações operacionais, transformação organizacional e projetos de expansão regional e nacional.

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