A esquerda está em pleno processo de se repensar, clarear as suas pautas e tentar se reconectar com as suas bases. E isso, antes mesmo da vitória do Trump nos Estados Unidos. Lideranças importantes deste campo político, como o Boulos e o Mano Brown, reconhecem que está havendo falhas na disputa política e que houve afastamento das periferias, que seriam um foco central do movimento. Afinal, a esquerda advoga para si a pauta da justiça social.
Para conseguir sobreviver ou tentar avançar, a esquerda tem buscado fazer frentes amplas, conforme a eleição presidencial de 2022. Muitas vezes, tem dificuldade de fazer valer o próprio lado nesta frente. Já a direita acentuada percebe que consegue disputar de forma competitiva sem abrir mão, por exemplo, de um vice com o qual tenha mais sintonia política, histórica e ideológica.
A JoJo Todynho tem ganhado repercussão nos últimos dias por se declarar de direita. Como ela é negra e tem origem humilde, da favela, personalidades da esquerda criticaram o posicionamento dela, que de oprimida teria se posicionado como opressora.
Isso revela a necessidade constante da dialética política e de compreensão dos contextos socioeconômicos e culturais dos interlocutores e dos alvos das políticas públicas, tanto por parte da esquerda, quanto da direita.
Lula conta que, lá no início dos anos 1980, percebeu que trabalhador não vota em quem se apresenta como trabalhador só por uma questão de afinidade ocupacional. Ali ele disse ter se dado conta de que era preciso travar essa disputa política.
Nos Estados Unidos, quase a metade das eleitoras votou em Trump, apontado como machista pelos progressistas. Também quase 50% dos eleitores latinos votaram nele, que apresenta pautas de endurecimento da imigração.
Ou seja, a ciência do voto é muito mais complexa, envolve elementos sutis e particulares que não cabem em análises padronizadas. Cada cabeça, um mundo.
Bruno Lara, jornalista