Este é um ano de importantes eleições pelo mundo. Do México à Indonésia, da União Europeia (UE) à Índia, sem contar a Venezuela, onde as eleições parecem ter sido um faz-de-conta, mais de 2 bilhões de cidadãos, em 31 países, além da UE, terão experimentado votar, em um ciclo que será encerrado no Senegal, em 15 de dezembro.
Até lá, as duas maiores democracias das Américas também irão às urnas. No Brasil, as eleições municipais de 6 de outubro, após um calendário enxuto de 51 dias de campanha, têm na cidade de São Paulo seu maior palco. Nos EUA, em reta final, a eleição presidencial já se afigura como uma das mais movimentadas e segue imprevisível, enquanto parece interminável.
De início, Joe Biden, o democrata em busca de reeleição, enfrentando preocupações sobre seu declínio físico e mental; e Donald Trump, cuja candidatura, anunciada em novembro de 2022, foi ameaçada por diversas investigações judiciais.
A trajetória de Biden teve dois momentos de forte contraste. Em fevereiro, após sólido desempenho no Discurso do Estado da União, demonstrando vigor e acuidade, parecia ter sepultado de vez as dúvidas em torno de seu nome. Já em junho, seu fraco desempenho em debate com Trump precipitou intensa pressão por sua renúncia. Em rápida reação, endossou Kamala Harris como candidata oficial, em 21 de julho de 2024.
Do lado republicano, entre junho e setembro, ocorreram duas tentativas de assassinato contra Trump: a primeira, da qual escapou por nada menos que um milagre, e a segunda, desmantelada ainda nos preparativos.
Como era de se esperar, as estratégias de Kamala e Trump am por mobilizar eleitores com pautas que acirram paixões polarizadas. De um lado, a arregimentação do discurso em defesa das políticas pró-aborto. Do outro, uma narrativa quase apocalíptica sobre hordas de imigrantes, compostas por “criminosos”, atravessando a fronteira sul do país.
Com a inflação anual em 2,53% neste ano, após picos de 9% em 2022, a inflação em habitação e serviços está em torno de 3,2%, o que ainda representa um peso perceptível. Embora em queda, a verdade é que a memória da inflação alta impacta o que seria um desempenho econômico louvável, com crescimento estimado em 2% e desemprego em baixa, atualmente em 3,8%. Resta saber o que guiará o eleitor: a memória do bolso apertado ou a realidade mais favorável atual.
Tantas eleições revelam que as democracias estão vivas, mas as escolhas até o momento mostram riscos no ar. Esse é tema para uma próxima coluna.
João Marcelo Chiabai da Fonseca, advogado, consultor e mestre em Políticas Públicas pela Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS) da Universidade Johns Hopkins