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Câmara do Rio reage ao silêncio da CBF e declara presidente da Conmebol persona non grata por fala racista

Um mês atrás, Alejandro Domínguez disse que a Libertadores sem o Brasil “Seria como Tarzan sem a Chita”

Marcondes Brito

05/06/2025 11h03

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Reprodução

Enquanto a CBF se calava, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro decidiu agir. Em primeira votação, os vereadores aprovaram nesta quarta-feira (4) o projeto de lei que declara o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, persona non grata na cidade. A medida é uma resposta oficial à declaração racista feita meses atrás pelo cartola paraguaio.

Durante uma entrevista, ao ser questionado sobre uma possível edição da Libertadores sem clubes brasileiros, Domínguez respondeu com desdém: “(Seria) como o Tarzan sem a Chita”. A comparação, de mau gosto e recheada de estereótipos coloniais, foi criticada por especialistas e entidades antirracistas, mas ou em branco na esfera institucional do futebol brasileiro. A CBF, à época comandada por Ednaldo Rodrigues, sequer divulgou nota oficial de repúdio. Nem cobrança, nem constrangimento — apenas silêncio.

Agora, a reação vem da política. O autor do projeto é o vereador Leonel de Esquerda (PT-RJ), que classificou a fala como “ofensiva ao povo brasileiro e à nossa contribuição histórica ao futebol mundial”. A proposta ainda precisa ar por segunda votação na Câmara antes de seguir para sanção do prefeito Eduardo Paes.

Racismo ou injúria?

Do ponto de vista jurídico, a fala de Domínguez pode se enquadrar no crime de injúria racial, previsto no artigo 140, §3º do Código Penal Brasileiro. A analogia feita por ele — entre brasileiros e um macaco de ficção — evoca um dos estereótipos mais cruéis e históricos do racismo contra negros e mestiços. Juristas ouvidos por especialistas apontam que, ainda que a frase tenha sido dita em tom de ironia, há conteúdo discriminatório implícito, o que poderia configurar crime sim, especialmente se proferido em território nacional.

Além disso, do ponto de vista diplomático, a declaração contraria os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e pelos países-membros da Conmebol no combate ao racismo.

Uma vergonha institucional

A omissão da CBF escancarou a fragilidade da entidade diante da Conmebol. Ednaldo Rodrigues, em vez de proteger o país que representa, optou por manter relações amistosas com quem agride simbolicamente milhões de brasileiros. O resultado é um vexame internacional e um alerta sobre o abandono da nossa identidade em nome da diplomacia covarde.

Se faltou coragem à CBF, não faltou ao parlamento municipal carioca. A declaração de persona non grata tem peso simbólico, mas é também um grito por respeito — não apenas ao futebol brasileiro, mas ao povo que o representa com orgulho.

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