Recentemente, almocei com uma amiga gerente de recursos humanos de uma grande empresa de TI em Brasília. Sempre que conversamos, pergunto sobre a cultura organizacional da empresa, mas nunca obtenho uma resposta clara.
Ela sempre traz muitas definições e conceitos, mas nada concreto sobre a essência cultural da empresa. E, para piorar, recentemente mencionou ter feito uma formação com uma autoridade no assunto que afirmou que a estrutura da empresa também faz parte da cultura.
Não que isso não tenha sentido, basta ver a Google. Mas confesso, aos amigos leitores, que estou cansado dos “falsos gurus”, que utilizam DISC e outras ferramentas esotéricas como “constelação” alegando serem instrumentos balizadores de contratação e se autointitulam “consultores” sem nunca terem trabalhado no chão de fábrica. Em outras palavras, cansei de modismos istrativos.
É preciso que gestores de recursos humanos comecem a entender, por meio de amplo estudo, as características atemporais que distinguem fortemente as empresas excepcionais, donas de culturas incríveis e que fazem a diferença no mercado por serem reconhecidas como sumidades na contratação de seus profissionais, como a Microsoft, cuja cultura de contratação é muito bem apresentada por Ibraíma Dafonte Tavares em seu clássico livro “Como mover o monte Fuji”.
Para entender tais universos sem cair nas armadilhas dos falsos gurus, cuja capacidade de ludibriar é comparada aos melhores ilusionistas existentes, é preciso que o Gerente de Recursos Humanos tenha profundo entendimento de autores como Edgar H. Schein, Fernando Lanzer, Raj Sisodia, David B. Wolfe, Jag Sheth, Jerry I. Porras, Jim Collins e, é claro, do próprio Ibraíma Danfonte e os estudos da School of Business de Stanford, além já ter trabalhado ou fazer beenchmarkting nas empresas que sabem o que fazem.

Mas, afinal, o que é cultura organizacional?
A cultura organizacional é muito mais que um conjunto de valores e práticas que uma empresa adota; é o coração pulsante que define sua identidade, orienta seu comportamento e molda seu futuro. Em um mundo empresarial cada vez mais competitivo e dinâmico, entender e cultivar uma cultura organizacional forte e positiva tornou-se não apenas uma vantagem, mas uma necessidade crucial para o sucesso a longo prazo.
Por que a Cultura Organizacional é importante?
A cultura organizacional é o conjunto de crenças, valores, comportamentos e normas compartilhados pelos membros de uma organização. Ela influencia profundamente como os colaboradores interagem entre si, percebem seus líderes e se relacionam com os clientes e stakeholders (todas as pessoas, empresas ou instituições que têm algum tipo de interesse na gestão e nos resultados de um projeto ou organização, influenciando ou sendo influenciadas – direta ou indiretamente – por ela). Em essência, é o sistema de crenças e hábitos que define “como fazemos as coisas por aqui”.

Para desenvolver uma cultura organizacional sólida, uma empresa deve:
Definir Claramente Valores e Crenças
São os princípios fundamentais que guiam as decisões e ações dos colaboradores. Valores como integridade, inovação, compromisso com a qualidade, entre outros, são pilares essenciais da cultura organizacional.
Estabelecer Normas e Comportamentos
Formaliza as expectativas de comportamento dentro da organização, que podem incluir desde políticas formais até práticas informais que orientam o dia a dia dos colaboradores.
Adotar Rituais e Cerimônias
Eventos formais ou informais que reforçam os valores e crenças da organização, como reuniões de equipe, celebrações de sucesso e programas de reconhecimento. E aqui não me refiro a festas juninas ou comemorações de aniversários, e sim a eventos que REFORCEM a cultura da empresa.
Utilizar Símbolos e Artefatos
Elementos visíveis da cultura organizacional, como a marca da empresa, o dress code e até mesmo o jargão específico usado pelos colaboradores. Este item específico me lembra do tempo em que atuei como Gerente Educacional da Microsoft e tinha orgulho de literalmente vestir a camisa da empresa.
Uma cultura organizacional forte e positiva oferece uma série de benefícios tangíveis e intangíveis, como:
Engajamento e Produtividade
Colaboradores que se identificam com os valores da empresa tendem a ser mais engajados e produtivos.
Atração e Retenção de Talentos
Empresas com uma cultura positiva têm maior facilidade em atrair talentos alinhados com seus valores e em manter seus melhores colaboradores. Aqui, retomo meu tempo de Microsoft, onde era nítido o orgulhos dos funcionários em fazer parte daquela empresa.
Inovação e Adaptabilidade
Culturas que valorizam a inovação e a experimentação têm maior probabilidade de se adaptar rapidamente às mudanças do mercado.
Reputação e Relacionamento com Clientes
Uma cultura que promove o respeito, a transparência e o foco no cliente, geralmente, leva a relacionamentos mais sólidos e duradouros com os clientes.
No entanto, embora pareça algo simples, construir e manter uma cultura organizacional demanda muito trabalho, dedicação pois apresenta uma série de desafios, como:
Alinhamento de Expectativas
Garantir que todos os colaboradores entendam e adotem os valores da empresa pode ser um desafio, especialmente em organizações grandes ou globalizadas.
Mudança Cultural
Transformar uma cultura organizacional existente pode exigir tempo e esforço significativos, sobretudo se os valores antigos forem profundamente enraizados. E aqui ressalto, inclusive, a falta de cultura extremamente enraizada.
Sustentabilidade
Culturas organizacionais positivas não são estáticas; elas precisam ser constantemente cultivadas e adaptadas para permanecerem relevantes.
Enfim, a cultura organizacional é o alicerce sobre o qual empresas de sucesso são construídas. Ela não apenas define a identidade e o propósito de uma organização, mas também molda seu comportamento e influencia seu desempenho no mercado.
Investir em uma cultura organizacional forte e positiva não é apenas uma estratégia inteligente, mas uma necessidade vital para empresas que buscam prosperar em um ambiente cada vez mais desafiador e competitivo, afinal, uma empresa é composta por GENTE, e GENTE é sempre CULTURALMENTE influenciada.
E antes de encerrar, não posso deixar de perguntar: qual é a cultura de sua empresa?
Até a próxima…